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26 de Abril de 2024

A investigação criminal e o Ministério Público

Publicado por Alm Li Diane
há 8 anos

As Investigações criminais promovidas pelo Ministério Público tem um posicionamentos a favor da legalidade. De maneira sucinta, os argumentos a favor da condução de inquéritos investigativos pelo Ministério Público se firmam nos argumentos de que:

- A autorização de investigação pelo Ministério Público é decorrência lógica do fato de ser o mesmo o destinatário final dela, explicado pela Teoria dos Poderes Implícitos;

- O instrumento utilizado para investigação pelo Ministério Público é o PIC (Procedimento Investigatório Criminal), previsto pelo Conselho Nacional do Ministério Público, na Resolução n. 23 de 2007;

- A Polícia Judiciária não pode ser confundida com Polícia Investigativa, vez que possuem características e funções diversas.

Já o que se posicionam de maneira desfavorável, alegando que a condução de investigações pelo parquet não deve ser aceita, concentram seus argumentos em:

- Investigações conduzidas dessa maneira atentam contra o sistema acusatório;

- Normas Constitucionais não autorizam presidência do Inquérito Policiais pelo Ministério Público, somente que ele possa requisitar diligências investigativas e requisitar a instauração do Inquérito Policial;

- E que o exercício da atividade investigativa é exclusiva da Polícia Judiciária.

À guisa de introdução ao texto almejado, podemos apresentar estas como as informações principais discutidas no presente artigo, no qual buscaremos explicitar as posições, explicando e comentando seus argumentos.

O Ministério Público possui, no Brasil, a função de ser o defensor da ordem jurídica, servindo concomitantemente como uma dos pilares de sustentação do Estado Democrático de Direito e a consequência direta desta função, é necessário a instituição de algumas garantias e prerrogativas aos seus membros, no desempenho de suas funções.

A Constituição Federal, no art. 127 do seu Título “Das Funções Essenciais à Justiça", define o Ministério Público como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, tendo como princípios institucionais a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, com a autonomia funcional e administrativa devidamente asseguradas. A Carta prossegue, e no seu art. 128, menciona a estrutura organizacional da instituição ministerial e faz referência às garantias e prerrogativas da instituição.

Sobre a estrutura do MP podemos caracterizá-lo como instituição permanente, integrante de um conjunto de órgãos componentes permanentes do Estado brasileiro. Podemos dizer também que, como fiscal da lei, a sua ausência em casos em que deveria atuar obrigatoriamente provoca a nulidade absoluta dos mesmos.

Podemos apontar como princípios constitucionais do Ministério Público:

- a unidade, que determina que seus membros atuem como parte integrante de um órgão;

- a indivisibilidade, que determina que não haja vinculação entre a pessoa do promotor e a causa, já que o representante do parquet não é parte processual;

- e a independência funcional que, por sua vez, determina que cada membro da instituição possa exercer suas funções livre de ditames hierárquicos.

Há ainda o princípio do Promotor Natural que, juntamente com os constitucionais, acima mencionados, é considerado institucional, a qual garante a imparcialidade na atuação do órgão ao não se admitir a indicação hierárquica a designação de membros para atuar em processos determinados.

Devemos enumerar também as prerrogativas e funções garantidas ao MP no § 5º do art. 128 da CFRB. Temos a vitaliciedade, que se refere ao fato de que, após decorridos dois anos de exercício da função, o membro do parquet somente será destituído por sentença transitado em julgado; a inamovibilidade, em que os membros do órgão não podem ser removidos salvo por motivo de interesse público mediante decisão de órgão colegiado do parquet, e por voto da maioria absoluta de seus membros assegurada ampla defesa; e a irredutibilidade de vencimentos. São elas: a promoção da ação penal pública, exercer o controle externo da atividade policial bem como requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial.

No âmbito dos Ministérios Públicos dos entes federados é importante o estudo da Lei n. 8625/1993, a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Seu artigo 26, que dispõe acerca do exercício de suas funções, diz que o MP poderá: requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no artigo 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; manifestar-se em qualquer fase dos processos, acolhendo solicitação do juiz, da parte ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse em causa que justifique a intervenção.

Os promotores de justiça podem instaurar procedimento administrativo investigatório (inquérito ministerial) visando à colheita de elementos que reputem indispensáveis para a propositura de ação penal. Defendem ainda, com base na Súmula n. 234 do STJ, que possíveis excessos cometidos nesta condução de inquéritos ensejam responsabilidade administrativa e, assim, não deveriam existir temores.

“É perfeitamente possível que o órgão do Ministério Público promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e da materialidade de determinado delito. Tal conclusão não significa retirar da Polícia Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo a compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos fatos supostamente delituosos, mas também a formação da opinio delicti.”

A Constituição Federal previu a titularidade exclusiva da ação penal pública para a instituição do Ministério Público (art. 129, inc. I). Essa disposição constitucional é resultado do aprimoramento do sistema processual acusatório, pelo o qual as funções acusatória e de julgamento são desempenhadas por sujeitos processuais diferentes. Para tanto, assim como foi necessário determinar o órgão responsável por julgar, a Constituição já prevê, em seu corpo, a quem cabe exercer a acusação.

O mesmo artigo constitucional, em inciso diverso, prevê ser função do Ministério Público a promoção do inquérito civil e da ação civil pública (art. 129, inc. III), para os quais é pacífico na doutrina ser da competência da instituição em comento preparar a ação com as diligências que se mostrarem necessárias. Em outras palavras, nesse caso, é unânime o entendimento de que o MP pode, sim, investigar as situações e eventos que se mostrarem necessários.

Mas não mais que o interesse de se punir as condutas delituosas, ameaçadoras que são para a ordem e paz sociais. Logo, não nos parece correta qualquer interpretação segundo a qual a Constituição permite ao MP apurar os eventos relacionados a interesses civis, mas lhe negasse a competência para investigar fatos eleitos pela sociedade como os mais nocivos à sua própria estruturação.

Mais simples, lógico e correto é o raciocínio que entende que, se é dever do Ministério Público perseguir as consequências jurídicas originadas da investigação criminal, cabe-lhe também, diretamente, investigar os fatos dos quais surgem tais consequências, para melhor saber se há ou não consequências a serem perseguidas, em primeiro lugar.

“O Ministério Público tem poder investigatório previsto na própria Constituição, poder este que não está obviamente limitado à área não penal (art. 129, VI e VIII). Seria um contra-senso negar ao único órgão titular da ação penal pública, encarregado de formar a opinio delicti e promover em juízo a defesa do jus puniendi do Estado soberano (...), a possibilidade de investigação direta de infrações penais, quando isto se faça necessário.”

Essa competência investigatória está prevista no art. 129, inciso VI, que diz ser função do Ministério Público expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los (na forma da lei complementar respectiva).

Ora, esses procedimentos administrativos (não judiciais) foram previstos de forma ampla, sem haver limitação quanto à esfera cível ou criminal.

“Se os procedimentos administrativos a que se refere este inciso fossem apenas em matéria cível, teria bastado o inquérito civil de que cuida o inc. III. O inquérito civil nada mais é que uma espécie de procedimento administrativo de atribuição ministerial. Mas o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na esfera cível; atinge também a área destinada a investigações criminais”.

A Constituição Federal, em seu artigo 127, definiu o Ministério Público como “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

E, enquanto órgão encarregado de defender a sociedade – do que faz parte defender a segurança pública, por óbvio – cabe-lhe prevenir a criminalidade. Com efeito, a doutrina de direito penal não estabelece ser esse o fim das penas – a prevenção (ainda que uns foquem mais na geral, outros na específica)? E não é a responsabilização, através das penas, que o MP busca ao ajuizar as ações penais de sua competência?

A segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos – e não somente dos órgãos de polícia, os quais aparecem listados no rol do art. 144 da CF (o qual inicia o capítulo “Da Segurança Pública”). Pelo contrário, o caput do referido artigo, conforme acima afirmado, prevê expressamente ser a segurança pública direito e responsabilidade de todos.

“Mas a segurança pública não é só repressão e não é problema apenas de polícia, pois a Constituição, ao estabelecer que a segurança é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos (art. 144), acolheu a concepção do I Ciclo de Estudos sobre Segurança, segundo a qual é preciso que a questão da segurança seja discutida e assumida como tarefa e responsabilidade permanente de todos, Estado e população.”

O que se deve entender é que a manutenção da segurança pública não pode ser feita por um ou outro órgão estatal exclusivamente, ou mesmo por ações isoladas dos cidadãos comuns. Deve, sim, haver uma interação de todas essas partes, com a qual se somarão os esforços para se alcançar a meta em comento. Pois não se pode excluir o Ministério Público do sistema proposto pela Constituição, vez que seu objetivo exige independência para a condução de investigações criminais.

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